Maximiliano Portocarrero, autista nível 1 de suporte, mora em Santa Catarina e aos 4 anos teve sua vontade de participar de corridas de kart despertada. Em uma noite, estando sozinho ligou a televisão e em um canal de esportes estava passando uma corrida do TCR, que lhe chamou atenção. Mesmo não entendendo muito sobre o assunto, só queria estar ali naquele momento.
Começou a correr em 2018/2019, porém teve alguns momentos não tinha condições ou a possibilidade de ter uma pista perto. Além disso, sofreu comentários de pessoas próximas que desestimulavam sua vontade, com frases do tipo: “Isso é só um sonho de criança.”. Isso acabou lhe afetando, deixando-o com vergonha daquilo que tanto sonhava.
Se inspirou na historia do filme Ford Vs Ferrari. “Alguns anos atrás assisti ao filme quando lançou, algumas coisas do filme não são verdade ou não aconteceram igual é mostrado, mas essa história me provou que não era tarde para eu começar a correr e conseguir virar piloto profissional de carros assim como o protagonista, Ken Miles”, conta Maximiliano.
Não foi esse seu ídolo que fez Maximiliano seguir na carreira, mas, essa história só lhe mostrou que ele poderia conseguir chegar a ser piloto de carros de corrida. “Eu gosto muito do time Penske na NASCAR, meu piloto favorito é Joey Logano. Ainda nessa categoria gosto do Michael Mcdowell e até se aposentar, eu gostava do Kevin Harvick. Não costumo assistir muito outras categorias, as vezes assisto o WEC, Imperio Endurance ou TCR, mas acaba sendo mais por casualidade de ligar a televisão e estar passando”, contou.
Para os próximos anos, Maximiliano espera conseguir patrocinadores para começar em uma categoria de entrada, como a Formula Vee ou a Copa Joy: “Aqui na América do Sul, automobilismo é muito caro, especialmente no Brasil. Existe uma cultura muito fechada, onde geralmente pessoas ligadas ao mundo empresarial conseguem fazer carreira no automobilismo. Na Europa ou nos Estados Unidos conseguir patrocínios para correr é bem mais fácil”.
Além disso, o jovem conta que no Brasil não existem recompensas econômicas, pois geralmente o prêmio é um desconto na inscrição para o próximo ano, por exemplo.
Outra dificuldade é a questão dele não gostar de redes sociais (porque lhe causam ansiedade e estresse), o que acabou sendo um empecilho para patrocínios: “Uma pessoa me disse que por não ter redes sociais eu não iria conseguir patrocinadores, mas eu nunca desisti. Não acho que seja obrigatório ter uma rede social para conseguir patrocinadores, pois o ator Keanu Reeves é uma das pessoas mais famosas na internet, não tem redes sociais. E mesmo assim as empresas contratam ele para fazer propagandas, são empresas que colocam os anúncios nas próprias redes sociais delas.”
Ele acha importante no ambiente do esporte as empresas começarem a perceber isso, pois não apenas ele próprio, como outros autistas poderiam se beneficiar, se essa visão mudasse. “O mundo que vivemos hoje não está evoluindo para pensar em pessoas com dificuldades mentais. É cada vez mais comum ver como a sociedade excluir quem não pode se adequar. Ser autista é ter necessidades e capacidades diferentes das demais pessoas“, ressalta Maximiliano.
Atualmente, sua rotina de treinos é feita através de um aparelho de videogame com um volante, que comprou, cerca de 3 horas por semana. Isso porque treinar presencialmente ainda possui um custo alto. Maximiliano gosta de treinar online, baixando tempos que ele mesmo fez, ou competindo em corridas casuais. Ele não costuma mais treinar Kart, as poucas vezes que vai, é em uma pista com preço mais acessível, por serem karts de menos potencia.
“A pior parte é treinar sozinho, pois não tem muita emoção em ficar na pista só. Com outra pessoa, com um carro parecido ou igual consigo ter uma comparação, ao vivo, vendo o outro na minha frente, se eu conseguir alcançar e ultrapassar, significa que estou fazendo melhor”.
Talento além da corrida
Maximiliano gosta de desenhar, e foi ele mesmo que desenhou seu macacão e suas luvas. Ele que escolheu cada detalhe, até a tonalidade das cores. Também desenhou o kart da equipe (RNK), que ele corre no CEKI. Nesse foram usadas as cores da equipe, ganhou o Prêmio LIVE DO CEKI – Melhor Layout de Carenagem na primeira etapa do ano.
Por ser muito caro, Maximiliano decidiu que queria ter um macacão e luvas personalizados. Ele queria um macacão e luvas que o ajudassem a refletir seus gostos, sua personalidade. O maior problema que enfrenta, principalmente por ser autista são os alto-falantes que dão anúncios. Desde ano passado a organização do CEKI tem baixado o volume do alto-falante que fica perto do box onde ele estiver ou até mesmo deixam desligado.
“Outro desafio que enfrento é que no momento nem conseguiria ser piloto da NASCAR mesmo que eu tivesse chance. Recentemente descobri que eles não utilizam abafadores nos escapamentos. Meus ouvidos não aguentariam a dor e nem os melhores protetores de ouvido conseguem proteger com esse nível de ruído. Volker Weidler sofreu de problemas de ouvido após ganhar, teve que se aposentar por conta disso, e os companheiros de time dele também sofreram algum grau de perda auditiva. Hoje em dia isso é impensável no WEC (competição de autommobilismo) devido às regulações sonoras”.
Conquistas nos últimos anos:
2021 – Primeira vitória kart aluguel
2021 – 7⁰ lugar campeonato de kart aluguel Selmer
2022 – 7⁰ lugar campeonato de kart aluguel Selmer
2022 – 3⁰ lugar copa de kart Selmer (Campeonato)
2022 – Primeira corrida de kart 12 horas CEKI
2023 – 2⁰ lugar 6⁰ etapa campeonato citadino kart ACI (Auto Clube Itajaí)
2024 – Troféu melhor layout melhor carenagem CEKI Etapa 1
*Essa entrevista foi feita por Ana Bracarense e adaptada por Nathalia Barreto.