Entendendo o hiperfoco no TEA

Antes de iniciar esse artigo, é importante entender, primeiramente, o que de fato é o hiperfoco. Ele pode ser definido como uma forma intensa de concentração em um mesmo assunto, tópico ou tarefa e é bastante frequente em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo um padrão de comportamento restrito e repetitivo. O hiperfoco também pode estar presente em outras condições, como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Discutir continuamente os mesmos tópicos em uma conversa, tocar obsessivamente a mesma música repetidamente ou ler todos os artigos escritos sobre um determinado tópico são algumas das maneiras pelas quais o hiperfoco pode se manifestar. Músicas, livros, filmes, um personagem, letras, números, uma disciplina, entre outras infinitas possibilidades. O cérebro no autismo é hiperexcitado, então o hiperfoco pode ser um refúgio durante o estresse, situações desconfortáveis ou momentos de ociosidade.

Há aspectos positivos em se ter um hiperfoco, desde que ele seja explorado corretamente. O hiperfoco pode ajudar a desenvolver novas habilidades, além de ser um importante meio de aumentar a autoestima (já que saber que se é bom em algo é encorajador). Muitos profissionais e educadores utilizam o hiperfoco da criança com TEA a favor de sua educação e aquisição de novas habilidades e aprendizados.

O cérebro incorpora novos aprendizados através de redes neuronais de preferência que vão se firmando através de experiências vividas com significado e/ou repetidas; a estratégia deve ser então no sentido de agregar a estas redes formadas através do hiperfoco, novas informações, ampliando o interesse e o conhecimento da criança. Isso deve ser feito através de atividades interessantes, motivantes e reforçadoras.

É importante ressaltar que o hiperfoco não deve ser utilizado como uma estratégia para manter a criança quieta, entretida, longe do contexto social – o que acabaria por restringir ainda mais o repertório de interesses, anulando oportunidades de contato com outros temas e atividades.

Por que as crianças com hiperfoco muitas vezes se fixam em uma única coisa?

A primeira razão, a mais óbvia, é que eles simplesmente desfrutam de sua área de interesse em um grau muito alto.

Outra razão pela qual algumas crianças têm fixações é que isso lhes dá uma sensação de controle e previsibilidade sobre suas vidas. A mesma sensação de repetição pode ser reconfortante quando outros aspectos de suas vidas são menos previsíveis.

No extremo oposto do espectro, outras crianças podem estar obcecadas precisamente porque não têm controle sobre seu próprio comportamento. Em outros casos, uma obsessão realmente as ajuda a lidar com a ansiedade e a depressão. Para outros, entretanto, permitir que ela tome conta de suas vidas pode realmente piorar as coisas.

Por exemplo, uma criança/ adolescente pode passar horas e horas pesquisando websites ou vídeos do YouTube por medo de que seja errado jogar jogos de computador. Ela pode estar tão ansiosa que o que ela adora fazer pode ser um pecado que ela fica obcecado em tentar provar através de sua pesquisa que não há problema em se engajar em seu passatempo favorito.

Dicas para gerenciar o hiperfoco

Uma vez que você aprende a transformar o hiperfoco a seu favor, este torna-se uma grande vantagem.

As dicas a seguir podem ajudar a tornar o hiperfoco mais gerenciável para crianças:

  • Realize um cronograma para controle de atividades que tendem a resultar em hiperfoco. Isso pode envolver limitar o tempo que elas passam assistindo televisão ou jogando videogames;
  • Tente conscientizar a criança de que o hiperfoco é um sintoma de sua condição. Isso pode ajudá-la a entender que precisa lidar com isso;
  • Use marcações de tempo finais, como o final de um filme, como um sinal de que a criança precisa reorientar sua atenção. Isso pode impedir que ela fique absorta por muito tempo;
  • Promova atividades que as afastem do isolamento e que a estimulem a conviver socialmente.

Estas dicas poderão ajudar os adultos:

– Defina tempo através de cronômetros e lembretes para ajudar a concluir todas as tarefas, atividades ou trabalhos essenciais.

– Estabeleça prioridades e as alcance passo a passo. Isso evita focar em apenas uma atividade por muito tempo.

– Não tenha medo de pedir às pessoas nas proximidades para desligarem televisões ou outras distrações, se ficar evidente que o hiperfoco está começando a se instalar.

– Solicite às pessoas que telefonem ou enviem e-mails em horários específicos. Isso pode ajudar a quebrar períodos intensos de foco.