Já ouviu falar sobre Masking ou Mascaramento Social no Espectro do Autismo?
Masking – do inglês Mascaramento – é uma estratégia para enfrentamento social, definida como um esforço que pessoas no TEA fazem, de forma consciente ou inconsciente, para mascarar suas características e apresentar uma topografia comportamental “menos autista” para se encaixar em situações sociais.
É uma estratégia que envolve um gasto de energia excessivo para tentar assimilar e aprender comportamentos considerados “típicos” para compensar e camuflar (mascarar) suas próprias características relacionadas ao TEA. Isso, geralmente, leva pessoas autistas a se sentirem totalmente esgotadas durante ou logo após se exporem a situações sociais.
O Masking, no TEA, começou a ser investigado nos últimos anos, primeiramente, com meninas e mulheres no Espectro Autista, através de pesquisas qualitativas analisando experiências de autorrelato, principalmente, para investigar a razão que leva a um diagnóstico tardio nesta população.
A camuflagem (ou mascaramento social), utilizado como estratégia, é uma das teorias aceitas, atualmente, para explicar a razão de diagnósticos mais tardios e menos frequentes em mulheres do que homens. (Begeer et al.2013; Giarelli et ai.2010).
Uma pesquisa qualitativa feita por Dean et al.2017, por exemplo, mostra no relato de meninas e mulheres autistas temas que envolvem esconder ou se esforçar para tentar parecer uma pessoa não autista.
Os relatos de meninas e mulheres autistas, neste sentido, são de que copiando comportamento de pessoas não autistas e controlando suas próprias características, isso “ajuda” a lidar com algumas dificuldades sociais e de comunicação.
Essa pesquisa também mostrou, que há consequências muito negativas na camuflagem como: índices de estresse elevando, problemas de saúde mental (depressão e ansiedade), exaustão e falta de acesso a suporte ou serviços de saúde especializados, como consequência de ocultar suas próprias dificuldades.
Nos últimos anos, algumas pesquisas também tentam criar uma medida para rastrear, avaliar e quantificar a camuflagem social em autistas adultos.
Camouflaging Autistic Traits Questionnaire – CAT-Q. (Questionário de camuflagem de traço autista)
Um teste criado com base em reflexões e experiências relatadas por adultos autistas, foi psicometricamente examinado e validado (não no Brasil) no estudo de Hull, Laura, et al (2019).
Desenvolvido para ser aplicado em adultos (maiores de 16 anos), diagnosticados com TEA ou em investigação e com inteligência na média a superior.
O CAT- Q, mede o grau em que uma pessoa se utiliza de estratégias de camuflagem através de uma escala com 25 itens, divididas 3 subcategorias:
Compensação — Estratégias usadas para compensar dificuldades em situações sociais.
Mascaramento — Estratégias usadas para esconder as próprias características ou parecer não autista.
Assimilação — Estratégias usadas para copiar ou aprender comportamentos e tentar se encaixar com outras pessoas em situações sociais.
A escala oferece 7 opções de autodeclaração, com pontuação variando de 1 (Discordo Fortemente) até 7 (Concordo totalmente).
Os itens usados para rastreio, são:
1 – Quando eu estou interagindo com alguém eu, deliberadamente, copio suas expressões faciais e linguagem corporal?
2 – Eu aprendo como as pessoas usam seu corpo, assistindo tv ou filmes ou lendo e uso esse conhecimento para interagir na minha vida real.
3 – Tento melhorar minha compreensão sobre habilidades sociais, observando outras pessoas.
4 – Repito frases que ouvi os outros dizerem, exatamente da maneira que os ouvi dizendo pela primeira vez.
5 – Eu pratico minhas expressões faciais e linguagem corporal e me esforço para que elas pareçam naturais.
6 – Passei tempo aprendendo habilidades sociais em programas de tv e filmes e tento usar nas minhas interações.
7 – Nas minhas interações sociais, uso comportamentos que aprendi vendo outras pessoas interagindo.
8 – Pesquisei regras sobre interações sociais para melhorar minhas próprias habilidades sociais.
9 – Desenvolvi um roteiro para seguir em interações sociais
10 – Eu monitoro as minhas expressões faciais e linguagem corporal para parecer relaxado (a).
11 – Eu ajusto as minhas expressões faciais e linguagem corporal para parecer relaxado (a).
12 – Eu monitoro as minhas expressões faciais e linguagem corporal para parecer interessado (a) na pessoa que estou interagindo.
13 – Eu ajusto as minhas expressões faciais e linguagem corporal para parecer interessado (a) na pessoa que estou interagindo.
14 – Eu não sinto necessidade de fazer contato visual com outras pessoas, se eu não quiser.
15 – Nas interações sociais, eu não presto atenção no que meu rosto e corpo estão fazendo.
16 – Eu sempre penso sobre a impressão que quero causar nas outras pessoas.
17 – Eu estou sempre consciente da impressão que causo nas outras pessoas.
18 – Raramente sinto necessidade de representar para passar por uma situação social.
19 – Quando falo com outras pessoas, sinto que a conversa flui naturalmente.
20 – Quando estou em situações sociais, tento encontrar maneiras para não interagir com os outros.
21 – Em situações sociais, sinto que eu estou representando ao invés de ser eu mesmo (a).
22 – Eu tenho que me forçar a interagir com as pessoas quando estou em situações sociais.
23 – Em situações sociais, sinto que estou fingindo ser “normal”.
24 – Preciso de apoio de outras pessoas para socializar.
25 – Eu me sinto livre para ser eu mesmo (a) quando estou com outras pessoas.
Discordar dos itens: 14, 15, 19 e 25 e concordar com a maior parte dos outros itens, é sinal de excesso de gasto de energia para tentar se socializar. Pesquisas sugerem que quanto maior a camuflagem, piores são os índices de qualidade de saúde mental.
Créditos: Chaloê Comim
Revisado por Nathalia Barreto
REFERÊNCIAS:
BEGEER, Sander et al. Sex differences in the timing of identification among children and adults with autism spectrum disorders. Journal of autism and developmental disorders, v. 43, n. 5, p. 1151-1156, 2013.
DEAN, Michelle; HARWOOD, Robin; KASARI, Connie. The art of camouflage: Gender differences in the social behaviors of girls and boys with autism spectrum disorder. Autism, v. 21, n. 6, p. 678-689, 2017.
GIARELLI, Ellen et al. Sex differences in the evaluation and diagnosis of autism spectrum disorders among children. Disability and health journal, v. 3, n. 2, p. 107-116, 2010.
HULL, Laura et al. “Putting on my best normal”: Social camouflaging in adults with autism spectrum conditions. Journal of autism and developmental disorders, v. 47, n. 8, p. 2519-2534, 2017.
Development and Validation of the Camouflaging Autistic Traits Questionnaire (CAT-Q) (Hull et al., 2018)
Gender differences in self-reported camouflaging in autistic and nonautistic adults (Hull et al., 2019)