Por que os números de diagnósticos do autismo estão crescendo?

Um levantamento recente do Center for Disease Control and Prevention dos EUA mostrou que, se nos anos 1970 o número de diagnósticos de TEA estava na faixa de 1 para cada 10 mil crianças, em 1995 já havia pulado para 1 em cada mil e continuou crescendo aceleradamente, até chegar a 1 a cada 59 em 2018, 1 a cada 44 e o último divulgado, sendo de 1 a cada 36 crianças. Se essa proporção for adaptada para a população brasileira, por exemplo, isso resultaria em um contingente de mais de 4 milhões de pessoas. Segundo o Censo escolar do Brasil, houve um aumento de 280% no número de estudantes com TEA matriculados em escolas públicas e particulares apenas no período entre 2017 e 2021.

Enquanto o número de diagnósticos dispara, os estudos das causas e características do TEA se transformaram em um tema central da área de neurodesenvolvimento. O estudo dos mecanismos neurobiológicos e psicocognitivos subjacentes aos sintomas aumentou consideravelmente na última década, pois elucidar o TEA é, também, uma via de entender como funciona o comportamento social, o que faz o estudo do transtorno extremamente relevante do ponto de vista de entendimento do funcionamento cerebral.

Mas por que será que esse números estão crescendo? 

O aumento nos números de diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode ser atribuído a uma combinação de fatores. É importante ressaltar que o aumento nos diagnósticos não significa necessariamente um aumento na prevalência do TEA, mas sim uma melhor compreensão e identificação do transtorno.

Primeiramente, existe um maior conhecimento e conscientização sobre o TEA entre profissionais de saúde, educadores e pais. O aumento na divulgação de informações sobre os sinais, características e critérios de diagnóstico do autismo tem permitido que mais pessoas identifiquem os sinais precoces do transtorno em seus filhos ou em si mesmos. Isso contribui para um maior número de diagnósticos precoces, o que por sua vez possibilita uma intervenção precoce e melhores resultados a longo prazo.

Além disso, houve avanços significativos na área da pesquisa sobre o TEA, o que levou a uma melhor compreensão dos seus mecanismos e critérios de diagnóstico. Os manuais de diagnóstico, como o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e o CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), foram atualizados para refletir essa compreensão mais abrangente do transtorno. Com critérios de diagnóstico mais claros e inclusivos, profissionais de saúde estão mais aptos a reconhecer e diagnosticar corretamente o transtorno.
 

Outro fator que contribui para o aumento dos diagnósticos é a diminuição do estigma associado ao espectro. No passado, muitas pessoas com sinais sutis ou atípicos do transtorno poderiam não ter sido diagnosticadas ou terem recebido diagnósticos equivocados. Atualmente, há um maior reconhecimento da diversidade no autismo, o que resulta em uma maior disposição em diagnosticar e oferecer apoio às pessoas com diferentes manifestações do TEA.

É importante mencionar também que a conscientização pública tem aumentado, assim como o acesso a serviços de saúde e educação especializados. Com mais recursos disponíveis e uma maior demanda por serviços voltados para o autismo, é natural que haja um aumento nos diagnósticos.

Em resumo, os números crescentes de diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista podem ser explicados por uma combinação de fatores, incluindo maior conscientização, melhor compreensão do transtorno, critérios de diagnóstico atualizados, diminuição do estigma e maior acesso a serviços especializados. Esses avanços são positivos, pois possibilitam uma intervenção precoce e uma melhor qualidade de vida para as pessoas com TEA.

Créditos: Nathalia Barreto