O mutismo seletivo (MS) e o transtorno do espectro autista (TEA) são duas condições que podem apresentar a dificuldade de comunicação como traço principal. Embora distintos, esses transtornos podem se entrelaçar de maneiras complexas, exigindo um olhar atento e diferenciado por parte dos profissionais.
Compreendendo o Mutismo Seletivo:
O Mutismo Seletivo é um transtorno de ansiedade caracterizado pela incapacidade persistente de falar em determinadas situações sociais, enquanto a comunicação em outros contextos é normal. Essa dificuldade não se deve a falta de habilidades de fala ou compreensão da linguagem e pode gerar sofrimento significativo e prejudicar o desempenho acadêmico, social e profissional do indivíduo.
Características:
- Incapacidade de falar em situações específicas: A criança pode falar em casa com a família, mas ficar muda na escola ou com estranhos.
- Ansiedade e medo: A fala pode ser vista como uma situação aversiva que gera ansiedade e medo.
- Comportamentos de esquiva: A criança pode evitar contato visual, se esconder ou se afastar de situações que a deixam ansiosa.
- Comunicação não verbal preservada: A criança pode se comunicar por gestos, expressões faciais ou escrita.
Fatores de risco para o Mutimo Seletivo:
- Genética: Predisposição familiar pode aumentar o risco de desenvolver
- Personalidade: Traços como timidez e inibição social.
- Experiências traumáticas: Eventos como bullying ou mudança de escola podem desencadear.
A relação entre MS e TEA é complexa e ainda não totalmente compreendida. No entanto, estudos sugerem que:
- Comorbidade: Entre 20% e 30% das crianças com TEA também apresentam mutismo seletivo.
- Fatores de risco compartilhados: Dificuldades na comunicação social e na regulação emocional podem ser fatores de risco para ambos os transtornos.
- Similaridades nos sintomas: Dificuldade de comunicação, ansiedade social e comportamentos repetitivos podem estar presentes em ambos os casos.
Diferenças entre MS e TEA:
- Natureza da dificuldade de comunicação: No mutismo seletivo, a dificuldade é específica para determinadas situações, enquanto no TEA, a comunicação é geralmente afetada em todos os contextos.
- Presença de outros sinais: O TEA apresenta outros sinais além da dificuldade de comunicação, como interesses restritos e comportamentos repetitivos.
A similaridade dos sintomas pode dificultar o diagnóstico diferencial entre MS e TEA. Uma avaliação abrangente por uma equipe multidisciplinar é fundamental para um diagnóstico preciso.
A intervenção fonoaudiológica é essencial para o tratamento do MS em crianças com TEA. O fonoaudiólogo pode:
- Criar um ambiente seguro e acolhedor: Reduzir a ansiedade e promover a confiança da criança.
- Desenvolver estratégias de comunicação: Ensinar técnicas para a criança se comunicar em situações desafiadoras.
- Trabalhar a ansiedade: Auxiliar a criança a lidar com a ansiedade e o medo de falar.
- Orientar pais e professores: Fornecer informações sobre o MS e estratégias para ajudar a criança na escola e em casa.
A associação entre mutismo seletivo e autismo tem sido observada em vários estudos. Embora o mutismo seletivo não seja exclusivo do autismo, há uma sobreposição significativa entre esses dois transtornos. Uma revisão sistemática e meta-análise publicada em 2016 no “Journal of Autism and Developmental Disorders” examinou estudos que investigaram a prevalência do mutismo seletivo em crianças com TEA. Os resultados sugeriram que o mutismo seletivo é significativamente mais comum em crianças autistas do que na população em geral.
Existem várias teorias sobre por que o mutismo seletivo está associado ao autismo. Uma explicação é que ambos os transtornos compartilham características comuns, como dificuldades na comunicação social e ansiedade social. Crianças com TEA podem ter dificuldades em se comunicar em certas situações devido a desafios na compreensão das nuances sociais e na regulação emocional.
Além disso, frequentemente apresentam sensibilidades sensoriais que podem contribuir para a ansiedade social e o mutismo seletivo. Ambientes sociais podem ser superestimulantes para essas crianças, tornando-as mais propensas a se retrair e não falar.
É importante ressaltar que nem todas as crianças com TEA desenvolvem mutismo seletivo, e nem todas as crianças com mutismo seletivo têm autismo. No entanto, compreender a associação entre esses dois transtornos é crucial para fornecer intervenções eficazes e apoio adequado às crianças que enfrentam esses desafios. O tratamento para o mutismo seletivo geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar que pode incluir terapia cognitivo-comportamental, terapia de fala e terapia ocupacional, adaptada às necessidades individuais da criança.